Eis
que se toca o címbalo e soa em nossos ouvidos um som maravilhosamente suave;
nossa alma se enche da mais pura expectativa de celebrar Cristo, a vida que ele
nos dá e as qualidades que em nós renova para que as apliquemos com afinco na
expansão do Reino. Mesmo as agruras que atravessamos em nossa existência na
terra, não se comparam à força para vencê-las e essa perfeição vem dos céus: é
Deus quem eternamente nos inunda de vitalidade!
Essa
vitalidade é o sopro que preencheu Adão, preencheu Eva e ainda nos preenche de
tal modo que somos, por isso, perfeitos. Triste é, buscando um ideal de
perfeição moralista, perdermos a essência desse sopro. Deus nos quer livres,
como realmente somos, sem firulas e repressões nem ao próximo nem a nós mesmos,
afinal, se nos cerceamos a nós, muito mais o faremos ao outro. É bom nos
lembrarmos de que o amor ao próximo depende do que temos por nós mesmos.
Em se
tratando de fatos, nesse derradeiro sábado tivemos o prazer de receber nossa
Reverenda Inamar, contudo, devido ao trabalho não pude estar presente na
celebração. No domingo, pela manhã, houve nova reunião, da qual pude
participar. A visita dos nossos irmãos, de outras denominações, felicitou-nos
em demasia. Eles cearam conosco, partilhando o pão e o vinho consagrados em
memória de Nosso Salvador.
Julio
Simões, refletindo sobre os textos propostos no Lecionário, destacou o paradoxo
contido no Evangelho de João, onde se lê a história do cego curado por Cristo:
foi ele quem concebeu verdade nas palavras e atitudes de Jesus e a partir de
então passou a ver. Pode-se dizer que ele “antes viu, para que depois pudesse
enxergar”. Os fariseus, por sua vez, embebidos no mais torpe orgulho de suas
próprias convicções, não puderam perceber Deus num homem tão simples e
marginalizado.
Semelhantemente,
o texto do livro de Samuel em que Davi é chamado para ser o rei de Israel
mostra-nos que ele era o menor entre os filhos de Jessé. E tão pouca era sua
importância que seu pai desconsidera a possibilidade de ser ele o escolhido de
Deus. Além disso, nele não se via sombra de moralismo, mas um coração puro.
Davi era sincero em seu amor e por isso fora chamado “O amado de Deus”.
A
humildade, atributo do amor, possibilita o reconhecimento do Messias, mesmo por
parte dos cegos que, então, passam a ver. Deus, o nosso Pai celestial, também
nos reconhece de um modo ímpar, porque não nos julga frivolamente, segundo
concepções morais, antes vê o coração, que, em verdade, pouco tem a ver com tais
regras, e aos humildes dá grandeza, como fez a Davi, que fora o menor entre
seus irmãos, e, mesmo depois de ter se tornado grande perante os homens,
manteve-se pequeno ante o seu Criador. Pelo que se percebe de seus escritos,
era, como dito no início dessa crônica, perfeito e amado de Deus, não por ser
um exemplo de moral, mas por ter um coração puro – da pureza do sopro divino.
Juiz de Fora, 03 de abril de 2014
Breno Ricardo