O ensaio “A arte de
amar” de autoria do Dr. Erich Fromm, trata do amor como temática central. Todavia, ao fazê-lo, inova apresentando-o sob
um viés ético em vez de sentimental e, inclusive, critica acidamente esta
interpretação derradeira, muito difundida na sociedade capitalista.
Em sessenta páginas, divididas em
quatro partes, na versão digital do livro, o autor disserta sobre “a única
resposta sadia e satisfatória ao problema da existência humana” (FROMM, Erich),
baseando-se em diversos autores, principalmente, Karl Marx e Sigmund Freud,
apesar de, por vezes, criticar as ideias desse último.
Logo no início o autor nos deixa
claro que a leitura há de ser frustrante àquele que nela buscar meios fáceis de amar. Segundo ele é preciso
humildade, coragem, fé e disciplina para alcançar tal meta e, assim como são
raros esses valores na sociedade contemporânea, raro é o amor.
Na primeira parte é discutido se
o amor pode ser classificado como uma arte. Por meio, principalmente, de
comparações com outros tipos de atividades reconhecidamente artísticas,
infere-se que o amor em muito à arte se assemelha. Assim sendo, é preciso
verificar os modos gerais por meio dos quais se domina uma arte e tentar
aplicá-los à manifestação amorosa.
É necessário o domínio da teoria
e da prática. Na segunda parte do livro, então, discorre-se o âmbito teórico. É
nessa parte que ele desenvolve e revela o motivo de ser o amor a resposta ao
problema da existência humana, por meio de uma “teoria do homem”. O problema é
que o homem está irrecuperavelmente separado da harmonia com a natureza; a
solução é harmonizá-lo com seu novo estado, humano. Isso só se alcança por meio
do amor.
Amor tal que pode revelar-se por
diversos objetos, também tratados cada qual em um tópico do livro: o amor
fraterno – fundamental; o materno – incondicional; o erótico – fusão total e
exclusiva com outra pessoa; próprio – causa e consequência do amor ao próximo;
e, de Deus – o ideal supremo mais desejável.
Na próxima parte, intitulada “O
amor e sua desintegração na sociedade ocidental contemporânea”, como sugere o
título, o autor usa de argumentos marxistas, confrontando-os com outros,
freudianos, para explicar a premissa expressa no início do livro de que o amor
é valor raro, atualmente.
Ao fim, já que o conjunto da
teoria e da prática é preciso à arte, Fromm disserta sobre esta última. Como
alertado no começo do livro, ele não deixa os passos objetivos para se alcançar
o amor, mas reafirma a inutilidade de tais moldes da autoajuda nesse caso. Esclarece
que amar, diz respeito a uma profunda mudança de caráter, que, como na arte,
deve ser aprendida e praticada diariamente, com perseverança, mesmo diante de
falhas que possam ocorrer nesse caminho difícil, mas recompensador.
A leitura do livro é formidável,
porque o autor consegue conciliar um estilo de escrita belo e simples, incomum
no que concerne a textos acadêmicos, com um embasamento teórico sólido em
autores consagrados como Marx e Freud, além das suas próprias observações e
pesquisas, importantíssimas, já que ele mesmo é um Doutor consagrado.
A proposta de Fromm é
desafiadora, em especial na sociedade contemporânea, que desvaloriza o ser
humano e os valores éticos, em detrimento de bens materiais e do poder que traz
o acúmulo desses. O sistema vigente e o amor são opostos, portanto, é um tipo
de subversão o que propõe o autor como solução da problemática da existência
humana.
Breno Ricardo. Escritor e
Discente no Curso de História da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF.