sexta-feira, 4 de abril de 2014

A PERFEIÇÃO ESTÁ NA HUMANIDADE, NÃO NA MORALIDADE


Eis que se toca o címbalo e soa em nossos ouvidos um som maravilhosamente suave; nossa alma se enche da mais pura expectativa de celebrar Cristo, a vida que ele nos dá e as qualidades que em nós renova para que as apliquemos com afinco na expansão do Reino. Mesmo as agruras que atravessamos em nossa existência na terra, não se comparam à força para vencê-las e essa perfeição vem dos céus: é Deus quem eternamente nos inunda de vitalidade!

Essa vitalidade é o sopro que preencheu Adão, preencheu Eva e ainda nos preenche de tal modo que somos, por isso, perfeitos. Triste é, buscando um ideal de perfeição moralista, perdermos a essência desse sopro. Deus nos quer livres, como realmente somos, sem firulas e repressões nem ao próximo nem a nós mesmos, afinal, se nos cerceamos a nós, muito mais o faremos ao outro. É bom nos lembrarmos de que o amor ao próximo depende do que temos por nós mesmos.

Em se tratando de fatos, nesse derradeiro sábado tivemos o prazer de receber nossa Reverenda Inamar, contudo, devido ao trabalho não pude estar presente na celebração. No domingo, pela manhã, houve nova reunião, da qual pude participar. A visita dos nossos irmãos, de outras denominações, felicitou-nos em demasia. Eles cearam conosco, partilhando o pão e o vinho consagrados em memória de Nosso Salvador.

Julio Simões, refletindo sobre os textos propostos no Lecionário, destacou o paradoxo contido no Evangelho de João, onde se lê a história do cego curado por Cristo: foi ele quem concebeu verdade nas palavras e atitudes de Jesus e a partir de então passou a ver. Pode-se dizer que ele “antes viu, para que depois pudesse enxergar”. Os fariseus, por sua vez, embebidos no mais torpe orgulho de suas próprias convicções, não puderam perceber Deus num homem tão simples e marginalizado.

Semelhantemente, o texto do livro de Samuel em que Davi é chamado para ser o rei de Israel mostra-nos que ele era o menor entre os filhos de Jessé. E tão pouca era sua importância que seu pai desconsidera a possibilidade de ser ele o escolhido de Deus. Além disso, nele não se via sombra de moralismo, mas um coração puro. Davi era sincero em seu amor e por isso fora chamado “O amado de Deus”.


A humildade, atributo do amor, possibilita o reconhecimento do Messias, mesmo por parte dos cegos que, então, passam a ver. Deus, o nosso Pai celestial, também nos reconhece de um modo ímpar, porque não nos julga frivolamente, segundo concepções morais, antes vê o coração, que, em verdade, pouco tem a ver com tais regras, e aos humildes dá grandeza, como fez a Davi, que fora o menor entre seus irmãos, e, mesmo depois de ter se tornado grande perante os homens, manteve-se pequeno ante o seu Criador. Pelo que se percebe de seus escritos, era, como dito no início dessa crônica, perfeito e amado de Deus, não por ser um exemplo de moral, mas por ter um coração puro – da pureza do sopro divino.


Juiz de Fora, 03 de abril de 2014
Breno Ricardo


Nenhum comentário:

Postar um comentário