O sol acorda e vai-se espreguiçando. Estica os raios de leste a oeste, iluminando a terra. Indica às outras estrelas e à lua que é tempo de descanso. Por meio dele, Deus, como uma mãe, nos chama dizendo que é tempo de viver o Reino, promovendo o bem e a beleza da vida ao nosso próximo. Àqueles de sono mais pesado, Deus desperta com o alto canto dos pássaros que, animadamente, voam a procura de alimento para seus filhotes.
A humanidade, de pé, também busca alimento. Não
somente o alimento do corpo, mas incessantemente busca alimentar também o
espírito. Disse Jesus: “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que
sai da boca de Deus”. Nós, da comunidade do Bom Samaritano, nos provemos da
celebração eucarística, da reflexão sobre o Evangelho, da partilha da vida, das
alegrias e das tristezas, todos os domingos, para renovar as forças e
prosseguir engajados na transformação do mundo num lugar cheio de justiça e
paz.
Durante esse tempo de quaresma, especialmente,
temos nos preparado para a celebração da Paixão e Ressurreição de Cristo.
Analisamos o quanto temos amado ao próximo com sinceridade, e, contritos,
pedimos a Deus que a sua misericórdia flua como o vento que leva do jardim de
nosso ser as folhas secas do desamor. A nossa irmã Ana Carmen compartilhou uma
reflexão sobre a extensão e abundância da graça de Deus. Afinal, se pelo pecado
de Adão a morte tornou-se inevitavelmente parte da vida, por meio da justiça de
Cristo, a justificação alcançou todas as gentes, mesmo nos rincões da Terra.
Ela também rememorou-nos, a partir da leitura do
Evangelho, que Jesus passou por diversas tentações enquanto esteve entre nós.
Como ele resistiu, é bom que resistamos de modo a nos manter fiéis a Deus,
porém é preciso ter sempre em mente que a graça divina já nos alcançou e por
isso somos livres. Pecado é o desamor que oprime e cerceia a liberdade do
próximo e a nossa própria. Infelizmente, várias vezes, limitamos em uma lista
aquilo a que devemos resistir. Acabamos por nos abster da arte e da diversão;
da contemplação da vida, da cultura e da natureza, coisas que Deus nos deu para
nosso deleite.
Quaresma é tempo de contrição, oração, jejum e
reflexão; tempo de se lembrar da misericórdia daquele que a doa
interminavelmente, como das nascentes brotam puras águas; não tempo de se
esquecer da graça abundante, gratuita e universal de Cristo e tentar se
justificar por meio de proibições de ordem tão somente moralista.
Juiz de Fora, 13 de março de 2014
Breno Ricardo
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