quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PARA REFLETIR



Foi-se o tempo em que os nossos Magistérios se manifestavam rápida e agilmente sobre os desacertos na e da sociedade.  

Fico até pensando que talvez a idéia de "pecado social" ou "dimensão social do pecado pessoal" tenha caducado, e em nossas comunidades de fé está liberado fazer tudo, qualquer coisa, desde que com bastante barulho.
 
Formar consciência? Libertar de jugos sociais e políticos? Ensinar que fé tem tudo a ver com política, com sociedade, com integridade, com poder?
 
É melhor deixar isso de lado, fingir democracia, aplaudir os palhaços que fazem da rua um circo, esquecer que a direita racista e elitista ainda existe e ainda prende negrinho ladrão em pelourinho.
 
Mais relaxante virar o rosto para o fato de que reforma não se faz com bombas, mas com educação para o convívio e a paz, e subirmos aos púlpitos bem engomados e pregarmos "Bem aventurados os pacíficos...!" enquanto rojões de crianças políticas manipuladas explodem em nossa orelha esquerda, nos ensurdecendo ao grito abafado de quem realmente quer mudança, e não guerra.
 
Mais cômodo fechar os olhos para o profundo descompromisso com a educação, e repetir numa ladainha sem sentido que "o tempo de Deus mudar a sua vida é hoje, Aleluia!", e nos esquecermos de sermos fortes e corajosos no testemunho entre os homens no poder do Espírito Santo.
 
Muito mais seguro, decerto, evitar mostrar a tibieza de nossas convicções políticas, de fé, de vida, de amor ao próximo, de diálogo, de educação para a cidadania, de inclusão... e dormirmos.
Todos nós, igrejas do Brasil, temos sido omissos, e talvez por isso este discurso pareça até ultrapassado ou conversa pra boi dormir...
 
Mas o fato é que, se não usarmos de nossa autoridade profética para denunciar e apontar os desatinos que temos visto, ficaremos acuados no fundo de nossas sacristias, fartos e obesos, sem termos certeza se o que se passa é o pesadelo de nosso sonho perdido ou; pior, muito pior; se o desencontro entre vontade política e ação pseudo-cidadã de nossos fiéis, que sujam as mãos em formas cada vez mais violentas de "manifestação", é uma aprazível canção de ninar para nossas pernas preguiçosas em fazer mais caminho... (ilustração: "Soneca", de Pulika)


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