Foi-se o
tempo em que os nossos Magistérios se manifestavam rápida e agilmente sobre os
desacertos na e da sociedade.
Fico até pensando que talvez a idéia de "pecado social" ou
"dimensão social do pecado pessoal" tenha caducado, e em nossas
comunidades de fé está liberado fazer tudo, qualquer coisa, desde que com
bastante barulho.
Formar consciência? Libertar de jugos sociais e políticos? Ensinar que fé tem
tudo a ver com política, com sociedade, com integridade, com poder?
É melhor deixar isso de lado, fingir democracia, aplaudir os palhaços que fazem
da rua um circo, esquecer que a direita racista e elitista ainda existe e ainda
prende negrinho ladrão em pelourinho.
Mais relaxante virar o rosto para o fato de que reforma não se faz com bombas,
mas com educação para o convívio e a paz, e subirmos aos púlpitos bem engomados
e pregarmos "Bem aventurados os pacíficos...!" enquanto rojões de
crianças políticas manipuladas explodem em nossa orelha esquerda, nos
ensurdecendo ao grito abafado de quem realmente quer mudança, e não guerra.
Mais cômodo fechar os olhos para o profundo descompromisso com a educação, e
repetir numa ladainha sem sentido que "o tempo de Deus mudar a sua vida é
hoje, Aleluia!", e nos esquecermos de sermos fortes e corajosos no
testemunho entre os homens no poder do Espírito Santo.
Muito mais seguro, decerto, evitar mostrar a tibieza de nossas convicções
políticas, de fé, de vida, de amor ao próximo, de diálogo, de educação para a
cidadania, de inclusão... e dormirmos.
Todos nós, igrejas do Brasil, temos sido omissos, e talvez por isso este discurso pareça até ultrapassado ou conversa pra boi dormir...
Todos nós, igrejas do Brasil, temos sido omissos, e talvez por isso este discurso pareça até ultrapassado ou conversa pra boi dormir...
Mas o fato é que, se não usarmos de nossa autoridade profética para denunciar e
apontar os desatinos que temos visto, ficaremos acuados no fundo de nossas
sacristias, fartos e obesos, sem termos certeza se o que se passa é o pesadelo
de nosso sonho perdido ou; pior, muito pior; se o desencontro entre vontade
política e ação pseudo-cidadã de nossos fiéis, que sujam as mãos em formas cada
vez mais violentas de "manifestação", é uma aprazível canção de ninar
para nossas pernas preguiçosas em fazer mais caminho... (ilustração:
"Soneca", de Pulika)
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